domingo, 29 de dezembro de 2013

Venha de lá mais um

Aproxima-se um novo ano, mais um a que não julguei chegar...
Nesta altura, a missão é conseguir aguentar-me e alcançar 2015, e por aí adiante, até onde a sorte me levar. Sim, penso que é uma questão de sorte... Pela minha parte, como nos últimos 5 anos, tudo farei para continuar por cá, perto de quem me ama e a quem faço falta. Se conseguirei ou não, é um caso a ver...

Se 2014 não for mais fácil, terei eu de ser mais forte: frase que li e com a qual concordei. Fica a questão: quanto mais forte conseguirei, ainda, ser? Este é, sem dúvida, um dos grandes testes à capacidade física e mental de uma pessoa...

Feliz 2014, com saúde.
T.



terça-feira, 26 de novembro de 2013

A fazer contas à vida

Nos altos e baixos desta vida com cancro - existem, é verdade, dias melhores e dias piores -, há algo que já não muda em mim: a permanente nostalgia pelo fim da vida à vista.
Nunca tive, nem terei, mais de 80 anos, mas acredito que, aos 46, me sinto como se os tivesse. Mesmo mais curta do que a dos idosos, é uma vida às costas que carrego, com as contas para ajustar e as ilações a tirar sobre o que dela valeu, ou não, a pena.

Sem futuro, vivo o presente - que de tão angustiante já não consegue ser feliz - e revisito o passado, procurando as boas memórias, por vezes esquecidas, fazendo por ignorar os momentos mal passados...

E, como os velhos, vos digo: quem me dera ter 20 anos e saber e o que sei hoje. Pronto, vá lá, 35.

T.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Esperançaaaaaaaaaa

Hoje começa uma nova etapa, mais uma das muitas, tantas que já lhes perdi a conta. Estou receosa... quero ter esperança mas não consigo: não consigo sentir a única coisa que me resta. Acredito que resulte, como estou ciente de que possa não acontecer. Preces à parte, o passado tem-me mostrado os dois lados da balança.
Mas quero muito que esta nova medicação faça efeito! Isso eu sei. E mai nada!

T.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Tudo "normal"

É sempre igual. Sofre-se à espera de notícias, recebe-se a má nova (que torna desejável a anterior, que por sua vez já tinha sido má), fica-se na m*** um bocadinho e depois... tudo volta ao "normal". Volta-se a sorrir, a brincar, a pôr a roupa a lavar ou a ver televisão.
É assim a vida desta gente, um dia de cada vez (já tentei de outra forma mas não é mesmo possível) e que sejam muitos enquanto forem suportáveis, como têm sido até agora.

Um dia, longínquo, a notícia era que tinha cancro da mama. Só isso. Bem vistas as coisas, foi a melhor das más notícias dos últimos anos. Vou mudando por dentro, o coração que o diga, mas, por fora, a vida continua e vai-se preparando para seguir sem mim, a malandra...  

Entretanto, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. Ele pode ser mais forte do que eu, e é certamente, mas até conseguir ganhar, não se há-de rir. Só se for das parvoíces e brincadeiras, que, logo a seguir à interiorização das más notícias, voltam à baila.



T.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Silêncio

Descobri que não sou só eu. Há por aí mais gente, muito mais gente, que não quer falar do assunto, que exige o direito de reserva no que toca àquilo que temos de mais íntimo: o nosso corpo. E o modo como ele anda por aí a comportar-se nem sempre é uma conversa recomendável para uma senhora...

Não, não tenho medo da palavra, uso-a sempre que se aplica. Tenho outros receios, que são mais exactamente os medos dos outros. Ou seja, com os meus posso eu bem (que remédio), os dos outros são mais difíceis de gerir. E, por isso, prefiro tocar-lhes o menos possível.

É cruel, disseram-me hoje, cara a cara com uma recusa de detalhes. Não, não é. Cruel é o cancro, ele é que é cruel, que me invadiu a vida  e os pensamentos e que se me aloja, em silêncio, na garganta...

T.

P.S. Para não dizerem que não conto nada, na quinta-feiro começo uma nova quimioterapia. Esta acabou, pouco antes de ter acabado comigo...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pernas para que te quero

Seguir em frente é um dos meus poucos lemas de vida. Confundida com coragem, esta estratégica tem por base alguns dos sentimentos mais básicos da essência humana, como o medo ou mesmo a estupidez.
Sigo em frente, simplesmente, porque tenho medo de parar e porque quero acreditar que, se continuar a correr pela vida fora, ele não me apanha.
run, tê, run
T.





terça-feira, 5 de novembro de 2013

Na linha

Diz a médica que, nesta fase da doença, o importante é manter este equilíbrio. Este equilíbrio? Vou pôr aspas. "Este equilíbrio". Ah, melhor.  Portanto, segundo ela, existe em mim um equilíbrio e há que mantê-lo. 

Mas toda a minha vida actual é, por junto, um desequilíbrio. Digo eu, e digo bem porque é verdade.

Vou portanto, tentar continuar a manter o equilíbrio do desequilíbrio, seja lá o que isso for...

T,

Registo do dia: 
Eu não estou só gorda, estou também inchada
e além disso, este ângulo não me favorece




segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um amor de mau feitio



Há pessoas que nos tocam de forma particular. E peculiar. Há, claro, a família e os amigos, mal seria se assim não fosse mas há também alguns... outros. Aqueles que, pelas mais variadas razões, nos chegam ao coração e provocam em nós sensações que estranhamos, mas entranhamos com gosto, tal é o efeito positivo que causam nas nossas vidas.

Hoje encontrei-me com uma dessas pessoas. Podia muito bem gostar dela tão só e apenas por acreditar que, se ainda estou viva, a ela lhe devo (sem desprimor para outros ajudantes de grande importância). Há cinco anos que decide a minha vida, que a tem na mão, que a explora e protege, sempre com uma frontalidade assombrosa, uma segurança invejável, uma dedicação inesgotável e a certeza, a minha, de que nunca me deixará cair, seja a que dia for, seja a que horas for, haja o que houver.

Foi ela a estranha que me deu o número de contacto no dia em que a conheci, que me ligou no dia seguinte à minha primeira quimioterapia, a que me atendeu o telemóvel e me orientou num aflitivo Dia de Natal, e a que me abraçou hoje e me disse que contasse sempre com ela...

Dona de um pragmatismo incontornável e de um feitio que pode dizer-se, no mínimo, difícil, é quem me tem dado as piores notícias da minha vida, e, também, uma das pessoas que mais me inspira a viver. Vá lá saber-se porquê...  

Mistérios do Universo... (ai se ela me ouvisse, "que disparate, Teresa, sabe que isso do universo é uma parvoíce, não sabe??" eheheh Adoro-a)

T.

Registo do dia:


Presa no mundo das redações e elevadores








domingo, 3 de novembro de 2013

De alma cheia


Na minha casa, há problemas, não posso negar, por mais que me apeteça. De todos os tamanhos. Desdes os pequeninos, daqueles que existem em todas as casas, até a uns bem cabeludos, dos que não está nas nossas mãos resolver...

Lidar com a incerteza - uma certeza na vida de todos - tem sido um motivo de aprendizagem constante. E o saber que tenho conquistado, que é muito, não me teria surgido de outra forma, que não fosse por via da força. Eu sei que não.

Para trás, ficaram 40 anos de ignorância sobre as dores alheias, sobre a saúde e como não podemos dá-la por certa, sobre a falta dela...

Para a frente, ficam o resto dos dias de incerteza - como eram os anteriores e eu não sabia - mas com a clara consciência de que a vida que temos é para ser vivida em pleno, dure ela o que durar, que as pessoas são para amar mais e melhor, que as chatices do dia a dia valem bem menos do que aparentam, que desistir não é uma opção.

Hoje estou assim, de alma cheia para o que der e vier....

T.


Registos do dia:

Maravilhoso fim de dia na praia de S. Pedro do Estoril